São João de Vila de Abrantes: Era uma festa de porta em porta e coração aberto

Quem viveu o São João de Vila de Abrantes até meados da década de 1990 guarda na memória um tempo de alegria simples, integração verdadeira e tradições que aqueciam o coração, junto com as fogueiras acesas nas portas das casas.

Naqueles tempos, o mês de junho transformava a vila em um verdadeiro arraial a céu aberto. Não havia grandes bandas nem estrutura de palco, mas o que sobrava era animação. As ruas se enfeitavam com bandeirolas coloridas e o cheiro de milho assado, amendoim cozido, pamonha, canjica e bolos de aipim tomava conta do ar.

A tradição era que praticamente todas as famílias acendessem suas fogueiras na porta de casa. O calor do fogo era só um detalhe perto do calor humano que unia vizinhos e amigos. O São João em Abrantes era uma festa de portas abertas: moradores saíam de casa em casa, levando e recebendo licor – feito artesanalmente ali mesmo, na vila – e as comidas típicas, preparadas com muito carinho.

Não era raro ver adultos e crianças circulando pelas ruas, em clima de amizade e muita descontração. Em algumas ocasiões especiais, a Associação Progresso, localizada na Praça da Matriz, promovia um forró improvisado para a comunidade. Mas, na verdade, o verdadeiro "palco" da festa eram as próprias ruas de Abrantes.

Era um São João mais caseiro, mais caloroso e carregado de afetividade. Uma época em que a música vinha das radiolas nas calçadas, das risadas das conversas na porta e das batidas dos pés no chão de terra ou de paralelepípedo.

Relembrar o São João de antigamente é um convite à reflexão: mais do que fogos de artifício ou grandes shows, o que realmente fazia a festa era a união entre as pessoas e a alegria de celebrar juntos.

Vila de Abrantes mantém viva essa memória e, para muitos moradores, as lembranças daquelas noites de junho ainda aquecem o coração, como o calor da fogueira que iluminava cada porta e cada sorriso.